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Apresentação
Publicado em 24/08/2018 às 15:41O SenGono é fruto de uma parceria entre o Ministério da Saúde, os Sítios Sentinelas (gestões estaduais e municipais, centros de coleta e laboratório de apoio local) e o Laboratório de Biologia Molecular, Microbiologia e Sorologia da Universidade Federal de Santa Catarina (LBMMS/UFSC). A vigilância envolve coleta e processamento de amostras, identificação do agente etiológico, captação de dados epidemiológicos e definição do perfil de sensibilidade, dentre outras análises essenciais para o desenvolvimento da estratégia.
Na primeira edição do projeto (2015-2016), evidenciou-se elevada resistência ao ciprofloxacino, o que levou à atualização da recomendação nacional para o tratamento preferencial da infecção gonocócica anogenital não complicada, com substituição do ciprofloxacino pela ceftriaxona, em terapia dupla com a azitromicina. Ainda no âmbito da primeira edição e em parceria com o laboratório de referência da OMS, realizou-se a vigilância genômica do gonococo mediante o sequenciamento total do genoma dos isolados.
A segunda edição do SenGono ocorreu entre 2018 e 2020, em que se evidenciou o aumento da resistência do gonococo à azitromicina e a permanência de elevada sensibilidade da bactéria às cefalosporinas de terceira geração (ceftriaxona e cefixima).
Atualmente, encontram-se em andamento a terceira edição (2023-2024), que contará com a participação de unidades-sentinela habilitadas e que terá previsão de publicação de novos resultados em 2024. A habilitação das unidades-sentinela está sendo realizada no âmbito da Vigilância Sentinela da Síndrome do Corrimento Uretral Masculino (VSCUM), instituída pela Portaria n.º 1.553, de 17 de junho de 2020. Dentre as atribuições dessas unidades, destaca-se a notificação de todos os casos de corrimento uretral atendidos na unidade e a participação no monitoramento da sensibilidade aos antimicrobianos.
Para informações detalhadas da primeira e segunda edições do SenGono, acesse https://www.gov.br/aids/pt-br/central-de-conteudo/publicacoes/2023/relatorio-de-monitoramento-da-sensibilidade-do-gonococo-aos-antimicrobianos-no-brasil-vigilancia-sentinela-projeto-sengono.pdf
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Ministério da Saúde integra de forma piloto o programa internacional de vigilância avançada da resistência de gonorreia da OMS
Publicado em 13/08/2024 às 18:13Nos dias 7 e 8 de agosto o Ministério da Saúde recebeu profissionais da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) para uma missão conjunta de implementação do Programa Aprimorado de Vigilância Antimicrobiana Gonocócica (Egasp) no Brasil e discussão sobre ferramentas para a resposta à sífilis e à sífilis congênita.
O objetivo do Egasp é fortalecer o controle da gonorreia por meio da vigilância da resistência a medicamentos antimicrobianos utilizados no tratamento de seu agente, o Neisseria gonorrhoeae.
O Ministério da Saúde – por meio do Departamento de HIV, Aids, Tuberculose, Hepatites Virais e Infecções Sexualmente Transmissíveis da Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente – realiza o monitoramento da sensibilidade do gonococo aos antimicrobianos, por meio da iniciativa SenGono (Sentinela do Gonococo), coordenada pelo Laboratório de Biologia Molecular, Microbiologia e Sorologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), sob responsabilidade da doutora Maria Luiza Bazzo, em parceria com estados, municípios, serviços de assistência e laboratórios locais).
Desde a primeira edição, a vigilância SenGono conta com colaboração da OMS, por meio do Programa de Vigilância Antimicrobiana Gonocócica (Gasp), em parceria com Centro Colaborador da OMS para gonorreia e outras infecções sexualmente transmissíveis, coordenado pelo doutor Magnus Unemo, e do Laboratório de Referência da América Latina para gonococo, o Laboratorio de Referencia en Enfermedades de Transmisión Sexual do Instituto Nacional de Enfermedades Infecciosas da Administración Nacional de Laboratorios e Institutos de Salud (INEI/ANLIS Malbrán), coordenado pela pesquisadora Patrícia Galarza.
A partir da referida iniciativa, este ano, o Brasil foi convidado a participar do programa aprimorado, o Egasp. Para o piloto, foram escolhidos dois serviços que integram SenGono, sendo o primeiro o Núcleo de Testagem e Aconselhamento do Distrito Federal e, o segundo, o Centro para Vigilância Sentinela do Corrimento Uretral, localizada em Florianópolis, Santa Catarina. Estes serviços são habilitados como centros para vigilância sentinela do corrimento uretral, que têm como uma das atividades principais o monitoramento da sensibilidade do gonococo aos antimicrobianos.
Durante a reunião, a secretária da SVSA, doutora Ethel Maciel, ressaltou a disponibilidade do Ministério da Saúde para o trabalho em conjunto com a OMS e o CDC na resposta às infecções sexualmente transmissíveis (ISTs). “Nossa gestão está comprometida com o cuidado da população. Vocês podem contar com a gente para juntos trabalharmos para o controle e a eliminação dessas ISTs”.
O encontro foi mediado pela doutora Pâmela Gaspar, coordenadora-geral de Vigilância das Infecções Sexualmente Transmissíveis do Dathi, e contou com representantes da OMS; do CDC Brasil e Estados Unidos; da Universidade Federal do Espírito Santo; do Núcleo de Testagem e Aconselhamento e Laboratório Central de Saúde Pública do Distrito Federal; Coordenação de IST do Distrito Federal e de Santa Catarina, da Opas; da UFSC; e da Coordenação-Geral de Laboratórios de Saúde Pública, do Centro Colaborador da OMS para gonorreia e outras infecções sexualmente transmissíveis e do Laboratório Nacional de Referencia en Enfermedades de Transmisión Sexual (INEI/ ANLIS Malbrán).
Representantes da missão no Brasil também estiveram em Florianópolis/SC, nos dias 5 e 6 de agosto, para realizar visitas ao Laboratório de Biologia Molecular, Microbiologia e Sorologia da Universidade Federal de Santa Catarina (LBMMS/UFSC) – referência nacional de IST – e à Policlínica Centro da Prefeitura Municipal de Florianópolis/SC, além de discussão técnica a respeito dos protocolos nacionais e da Egasp, bem como explanação a respeito dos antecedentes, expansão e resultados recentes do Programa Aprimorado.
Brasil Saudável
Para o diretor do Departamento de HIV, Aids, Tuberculose, Hepatites Virais e Infecções Sexualmente Transmissíveis (Dathi) do Ministério da Saúde, Draurio Barreira, o país está novamente priorizando a saúde da população. “O Brasil está de volta e estamos interessados em realizar parcerias internacionais em prol do cuidado da população. Hoje temos um programa ousado, o Brasil Saudável, que visa eliminar 11 doenças e cinco infecções transmitidas de mãe para filho. A eliminação da transmissão vertical da sífilis está entre nossas prioridades”.
Em consonância, Miguel Aragón, assessor de Doenças Transmissíveis e em Eliminação da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), ressaltou que o enfoque do Brasil Saudável e que pode ser um exemplo para outros países da América Latina. “Do ponto de vista da saúde, o Brasil possui as tecnologias disponíveis para a eliminação de diversas infecções e doenças, mas o país tem um grande obstáculo, que são as desigualdades sociais. Por isso, a chave desse programa é enfrentar os determinantes sociais”, destacou.
Lorany Silva e Ádria Albarado
Ministério da Saúde
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Grupo da UFSC é referência em pesquisas sobre agentes causadores de ISTs
Publicado em 23/01/2024 às 09:19O trabalho desenvolvido no Laboratório de Biologia Molecular, Microbiologia e Sorologia da UFSC tem reconhecimento nacional e internacional na identificação de agentes causadores de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) e no estudo da resistência desses microrganismos a drogas que os combatam. O projeto Vigilância da Resistência do gonococo aos antimicrobianos e da etiologia das uretrites e úlceras genitais no Brasil é coordenado pela professora Maria Luiza Bazzo, do Departamento de Análises Clínicas, ocorre em parceria com o Departamento de HIV/Aids, Tuberculose, Hepatites Virais e Infecções Sexualmente Transmissíveis do Ministério da Saúde e tem a gestão financeira da Fundação de Amparo à Pesquisa e Extensão Universitária (Fapeu).
Entre outras coisas, o grupo identificou um aumento na resistência do gonococo, causador da gonorreia, à azitromicina, um dos antimicrobianos utilizado no tratamento de ISTs. Parte dos resultados deste estudo foi publicado em 2022 no Journal of Antimicrobial Resistance. Outro trabalho recente propiciou o início da detecção etiológica de microrganismos como o Mycoplasma genitalium, uma bactéria associada a uretrites em homens e ao aumento de risco para aborto espontâneo, parto prematuro, doença inflamatória pélvica e infertilidade em mulheres, o que trouxe uma preocupação mundial a respeito da resistência dessa bactéria aos antimicrobianos. “Este caminho nos mostrou a importância de estudar resistência aos antimicrobianos, especialmente em Neisseria gonorrhoeae e agora em Mycoplasma genitalium”, observa a professora Maria Luiza.
Desde a década de 1990, a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda a vigilância da resistência de Neisseria gonorrhoeae (gonococo) aos antimicrobianos. O primeiro estudo de vigilância nacional desta resistência,realizado em parceria com a Fapeu, foi finalizado em 2017. Naquela versão foram coletadas amostras em Belo Horizonte, São Paulo, Manaus, Brasília, Florianópolis, Porto Alegre e Salvador.Para um segundo estudo houve uma ampliação dos centros de saúde nacionais que realizam a coleta das amostras. Os locais passaram de sete para 12 com a inclusão das cidades de Curitiba, São José dos Campos, Ribeirão Preto, Recife e Natal.
Além da resistência ao gonococo, a segunda rodada incluiu a detecção, por biologia molecular, de outros microrganismos causadores de ISTs em amostras de uretrites e úlceras genitais. A detecção dos microrganismos, como bactérias, vírus ou protozoários, foi realizada com a utilização de kits comerciais que detectam sete patógenos diferentes em cada tipo de amostra.
Mutação
Para a Mycoplasma genitalium, pesquisadores da UFSC estão realizando estudos de genes de resistência e utilizando sequenciamento do material genético do patógeno para identificar e analisar as mutações em genes que conferem resistência aos antimicrobianos. Este trabalho é realizado em parceria com o Laboratório de Bioinformática do Departamento de Microbiologia, Imunologia e Parasitologia do Centro de Ciências Biológicas (CCB).
Em relação à resistência em Neisseria gonorrhoeae, a equipe utiliza métodos de indução à resistência que mostram o comportamento da bactéria sob pressão seletiva do antimicrobiano in vitro. Um estudo desenvolvido na UFSC gerou uma publicação na revista Frontiers in Cellular and Infection Microbiology, que revelou um rápido desenvolvimento de mutações que causam resistência em Neisseria gonorrhoeae quando exposta a um antimicrobiano. Nesta mesma linha de pesquisa, outra tese está sendo desenvolvida no laboratório.
As atividades são desenvolvidas por uma equipe multidisciplinar. Farmacêuticos, bioquímicos, biólogos, médicos, enfermeiros, técnicos de laboratório e de enfermagem atuam nos projetos. São pelo menos 40 profissionais, além dos estudantes de graduação e pós-graduação. Na UFSC estão envolvidos os pesquisadores Marcos André Schörner, Jéssica Motta Martins, Hanalydia de Melo Machado, Fernando Hartmann Barazzetti, Felipe de Rocco, Ketlyn Buss, Mara Cristina Scheffer, Jhonatan Augusto Ribeiro, Julia Kinetz Wachter, Henrique Borges Grisard, Manoela Valmorbida, Clarice Iomara Silva e Maria Aparecida Rosa Cunha Cordeiro.
O projeto de vigilância da resistência do gonococo é uma parceria com o Ministério da Saúde, que considera o laboratório da UFSC como referência. Uma dessas parcerias tornou possível o recebimento de um equipamento, considerado pela OMS o padrão-ouro, para detecção de ISTs por biologia molecular, o que leva o Brasil a produzir resultados comparáveis internacionalmente. Este equipamento foi o primeiro instalado no Brasil e o único no mercado a oferecer automação em biologia molecular pela metodologia de amplificação mediada por transcrição, que faz a detecção do RNA do microrganismo e torna a técnica mais sensível.
Com informações de reportagem da edição 14 da Revista da Fapeu